segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sentimentos


Dizem que 'saudade' é uma palavra que só existe na língua portuguesa, não sei, só sei que saudade é muito mais que uma palavra, é um sentimento, um ideal, é uma força capaz de deixar deprimido o mais auto-confiante homem e, simultaneamente, é a força motivadora capaz de nos fazer transpor barreiras, por nós, julgadas intransponíveis, invioláveis.
Cada um de nós, filhos de Burcan, sentimos saudades de alguma coisa de nossa terra, rica em suas peculiaridades, ímpar em suas singularidades. Eu uso a saudade para nunca me esquecer de quão bom é ser filho de uma terra assim, de quão gratificante é abrir a boca e dizer que, Sim, Sou sampadjudu di Fogo.
Sinto saudades de quase tudo o que vi e vivi no Fogo.
Saudades de quando eu ia ao jardim de infância, início de minha vida social, da correria desenfreada das crianças na hora da saída, lá vão elas já perto do Hotel Xaguate, daqui a pouco estarão atravessando ponte trindade e seguirão pelas ruas que desaguam quase todas na ponte referida, rumo a seus lares.
Fui crescendo e comigo a saudade, agora já do tempo de Skola grandi, não das aulas, eu almejava mesmo era a hora do recreio, para jogar bola com as turmas rivais. Nós íamos sem medo, afinal, Macaquin era nosso defesa, vez por outra ele marcava um golo e tínhamos todos que esperar que ele regressasse de sua volta olímpica ao redor da escola, Sabe como é, estrela é estrela.
No ciclo as coisas mudaram um pouco, começavam as paixonites, os primeiros amores de nossas vidas, mas não gosto muito de falar desses tempos, pois ainda chorava quando meus irmãos falavam sobre minhas piquenas, Que piquena rapaz, ele é pato, Mãe o Tó é pato, e todos davam estrondosas gargalhadas. Era pato mesmo, Fazer o quê?!
O tempo do licéu deve ter sido a melhor época da minha vida, acredito nisso porque passou tão rápido, voando. Nem por isso as coisas então vividas foram mais promíscuas, elas foram marcadas de forma indelével no meu hipocampo, aquele pedacinho do cérebro onde armazenamos as memórias, diria assim querendo falar plebeiamente.
No licéu as menininhas já arrancavam nossos suspiros, já nos deixavam arrasados quando as víamos nas garras dos garotos mais velhos, mas também já sabiam nos levar ao céu quando, de forma esperta, sempre à base da sedução juvenil, nos arrancavam os poucos centavos que tínhamos para comprarem algo para elas. Hoje desconfio que alguns de nós patrocinamos prazeres materiais não apenas a elas, mas, infelizmente, aos seus predadores namorados. Quando desconfiávamos disso tirávamos tais meninas do nosso coração destroçado na hora, para sempre, Até parece, Me angana que eu gosto, parecia que sussuravam isso, atrás do irónico sorriso, esboçado por aqueles lábios que nos torturavam.
Sinto saudades até hoje, me emociono, fico arrepiado quando me lembro dos últimos dias passados naquele licéu, amado, querido, charmoso licéu de São Filipe. Nossas vidas levar-nos-iam para rumos diferentes, Fulano conseguiu bolsa para Portugal, Sicrano vai para o Brasil, congratulavam-se os não contemplados, como se eles mesmos tivessem garantido a bolsa de estudos. Eles mal sabiam que os verdadeiros felizardos são eles, foram contemplados com o grande privilégio de NUNCA sentirem o sabor amargo da saudade de sua terra.
Manhã cinzenta, a névoa dá tons de prata a tudo a que ela toca, 7:00 horas, Chã das Caldeiras
Os que madrugam já estão com as tarefas adiantadas, cabras já ordenhadas, leite já pronto para o café, as galinhas já enchem o papo, grão a grão, como, sabiamente, diz o ditado.
Ao redor da fogueira, providencialmente acesa por alguém, todos se reúnem, com as canecas de café fumegantes numa mão e o pedaço de pão na outra, a prosa segue alegre, sobre coisas corriqueiras, sobre a chuva que caiu ontem, sobre a sementeira para daqui a pouco, sobre a festa de logo mais, nunca sobre saudade, saudade de quê?, saudade pra quê?, Não, na minha terra a saudade não impera, na minha terra nostalgia é apenas uma palavra, nada mais. Essa é a maior saudade que eu tenho, é isso que me deixa agoniado, é isso que me faz agonizar. Saudade é muito mais que uma simples palavra, é um sentimento, um ideal...

Aquele abraço!
Eliezer Monteiro - Rio de Janeiro

6 comentários:

Anônimo disse...

Sodadi, sodadi... nho pon ku mas sodadi inda irmao. Amor e memoria.
Ami nunka odja Makakin ta txuga bola go, ma pa kel ki ta fradu era estrela sin... Brilha suma sol FIDJUS FOGO

Burcan disse...

Haha, sima ki nho fra brother. Macaco era patrão di bola. Nho kontinua ta ser leitor, pamodi é pa nos tudo ki nta skrebe kes linha tortus la. valeu mano, abração

Anônimo disse...

nha brother, un tem ki odja se n'ta patrocina nho un livro pmd nho sta srebe dimas, MAKIKIM era mestre di bola, ma gossim so bola de vidro kel ta djuga. Abraço, di bu brother mas ...

Burcan disse...

Valeu JJ, macaco ka era di bu época, bó inda bó é moleque. Abração do mano amigo, Eliezer

FFS disse...

djan sabebama nho e era boi,ago ma nho foi patu N
sabia.LOL
Mi e fan di nho!

Abrasu

FFS disse...

N ten ki kurrigi!
Djan sabeba ma nho era boi, ago ma nho foi patu N ka sabia. Assim é que é!
Abrasu