sexta-feira, 18 de julho de 2008

Outras coisas da minha terra!

Saudades. Muitas saudades.
De tudo, de todos, de cada mínima coisa da minha terra.
Sinto saudades do tempo em que eu ia à padaria comprar pão na Guta de titia nos dias de semana e na ' Maria Augusta' nos finais de semana. Saudades da fila, cada um esticando o máximo que pode os braços, brigando pelas últimas unidades do tão disputado pão, literalmente de cada dia. Que dizer então dos dias em que faltava farinha na ilha e todos acordavam cedinho, 'antes terral risca', estrelas ainda vivas no céu, para sairem vitoriosos com alguns exemplares do cobiçado alimento?! O sentimento de vitória, de dever cumprido, caia em cima de nosso ego, massageando-o ternamente.
Eu me lembro da primeira vez que comi gelado (sorvete) em minha vida. Já era garoto crescido, nos meus bons 11 anos. Quebrei o cofrinho, juntei os trocados e fui até a padaria Culú. Comprei um de chocolate e baunilha e me deliciei com aquilo. A casquinha, comestível obviamente, eu joguei no contentor de lixo, coisas de um ignorante em assuntos de sorveteria. Achei que fosse de papelão!
Sonho, de olhos abertos, e vejo as mulheres saindo de aguadinha, com as latas de água na cabeça, equilibrando-se, indo e voltando, indo e voltando, inúmeras vezes. Não dá, tampouco, para esquecer dos carros de Nonoti e Txoti nem do burro di Txikin, carregadinhos de recepientes com água. Os carros sempre tinham que ser empurrados se quisessem encontrar, novamente, o caminho de casa. O burro de Txikin não, esse era potente, não era um simples cambradal de água que o faria patinar, fique isso claro vendo-o galopando e soltando coices, mesmo carregadinho. Txoti sempre pedia a forcinha, carro está sem motor de arranque gente, sabe como é. Sabemos. Todos davam aquela forcinha camarada e lá ele ia, feliz no seu rumo. Um dia ele pediu a costumeira força e quando a rapaziada se levantou para empurrar, calças e mangas enroladas já, ele disse, calma gente, o carro hoje tem motor de arranque. A novidade foi dada com pompa e circunstância. Todos riram felizes.
Mais em baixo, no mercado, o burburinho se escuta de longe, cada um vendendo o que tem, Meri e Mamazinha os legumes e outros não tão conhecidos também. É época de uvas, da minha terra, evidentemente, como gostava de dizer o professor Alfa, evidentemente, põe-te pra rua, evidentemente. Na parte de fora os pescadores vendiam seus peixes frescos, garopa, txitxarro, fanhangon, fanhangon não, fanhangon só para um amigo meu de Tchan que o pescou aos montes e que acreditou piamente que fosse 'garopinha'. Bobo ele. Bobo eu também, que fui comprar, Serra ou atum meu filho, como frisava minha mãe, e que trouxe, ludibriado por um pescador mal-intencionado, gudja. Só eu para não ver o tamanho daquele bico, Só você mesmo meu filho, palavras da minha mãe. Depois daquele episódio aprendi que serra, por incrível que pareça não tem bico, que serra tem carne branca e que atum tem carne vermelha, Tá bom meu filho, tá bom.
Na sucupirinha, na cruz de paz, roupas estão penduradas, cada uma mais colorida e chamativa que a outra. As sapatilhas lindíssimas, Quando receber a quinzena vou comprar aquele Reebok, recebeu, comprou e ficou sem dinheiro, teve que ir de boleia para fora. Mas de Reebok novo no pé, evidentemente, eu sou matemático, evidentemente, como dizia aquele professor.
Passo pelo ciclo e vejo Nhô Fidjin, tomando conta do patrimônio. Chego no licéu e vejo Valdomiro no portão, Sem uniforme você não vai entrar, se quiser ba kexa na Beja. Lá dentro vejo Tati, cercando todo ser vivo do sexo feminino, Homem não pode entrar aqui, se quiser ba kexa na Beja, ele não chegava a dizer isso, mas com certeza tinha vontade.
Umas voltinhas depois, saio do licéu e vejo um certo suzuki branco imediatamente em frente ao buraco na parede do licéu, feito por ele mesmo, pelo motorista, sejamos justos. Esse suzuki é ferro forte, furou a parede, só não furou o pára-choque do carro de Vivico quando se esbarraram na subida santa filomena.
Já é noitinha e já é manhã, outro dia.
Todos acordam cedo para comprar pão na padaria, antes de terral risca, estrelas ainda vivas no céu. Há falta de farinha na ilha.

Aquele abraço!
Eliezer Monteiro - Rio de Janeiro

4 comentários:

Anônimo disse...

um gosta, lembra de quel tempo qui nu ta baba de beco bai simta la na feria antes de bai barcabalero, ta spera Jota bai kume el ta binha farto nu ta baba junto sempre e mas maltas, unico qui ca ta baba era Caiuca Lilica el ta fraba " mar e pa peixe".
um abracao pa maltas de aguadinha
calu

Burcan disse...

Haha Calu, kela tambe ta faze parte di nôs sodadi. Um abraço pa rapaziada mesmo

Anônimo disse...

sodade nha terra d+++.mama sodade bo .
To, nta lembra de bo ta djuga bola , ma bo e jugadoro mofino , nho ku Momas , nhos era so fura bola ku kel nhos pa moda lantcha.
um abraco pa td maltas de fogo ku kez nhas brothers ki sta la

Burcan disse...

Valeu Helves Txareka, nho é grande moleque que lá está. mi ku momas nós era patrão di zona, nho inda nho é txota. hehe. Abrasu pa nho mano.