Quando criança, eu passava as férias de verão inteiras em Chã, na casa de meu pai, junto dos meus primos, irmãos, tios, amigos. Era uma enorme ansiedade na hora de ir, Vai menino que ainda perdes esse carro. Tinha razão quem me deu a bronca, havia poucos carros que faziam o transporte e sempre iam cheios, muito cheios. Quando, espremido por entre as pessoas, caixas de peixe, móveis e o tudo o mais que se podia transportar, pensava que, Aqui não cabe nem mais uma agulha, aparecia sempre um passageiro com um cabra ou um bode fedido, que sempre ficava a meu lado, Muito obrigado.
A saída era ao lado do mercado, sempre, por volta da uma hora com o sol já derretendo a ansiedade que alguns trouxeram de conhecer a cidade, passear no prisídio, comprar no mercado, Vamos embora condutor, Pelo amor de Deus, Vamos, e fomos.
Até Brandon a viagem não tinha muitas surpresas, a paisagem era a mesma, cor de poeira, amarga, povoada por alguns magros exemplares de cabras, comendo pedras, como aprenderam, para não perecerem.
A partir daí melhorava um pouco. Em Patin tinha sempre um bêbado para alegrar o povo que abarrotava o carro. Depois que todos riram tentei, sem êxito, saber o que se passara. Não consegui me mexer, de tão amassado que estava. Mal sabia que um passageiro menos cheiroso havia de ficar a meu lado, daqui a pouco e pelo resto da viagem.
Daqui a pouco chegamos a Txada furna, Cabeça fundon onde alguem sempre dava um queijo fresco de leite de cabra, Um pedaço para cada um, Dá um pedacinho para o menino lá no fundo, Coitado, está todo amassado.
O carro entrou, por fim, na caldeira amada, e eu desci. Os próximos trinta minutos de viagem seriam a pé, carregando o saco com as roupas, poucas, diga-se para conhecimento de todos, os doces para as crianças, a erva para minha avó fumar o canhoto e a bola para jogarmos no final do dia. Sempre alguém vinha a meu encontro, meus primos e os primos de meus primos, querendo saber das novidades da cidade, dos doces, sejamos sinceros. Dos doces anos de minha infância tenho eu enormes saudades.
No primeiro dia tinha muitos privilégios, quase nenhuma obrigação. Jantamos djagacida ku leti e fomos todos dormir, juntos, no colchão de capa de milho esticado no chão da sala, embalados pelas histórias de outros reinos contados pelos mais velhos.
De manhã todos são acordados pela avó, Acordem que o sol já vai alto, todos tomam o café e saem para a lida, os meninos para cuidar dos animais e as meninas para catar feijão, lenha e cuidar da casa.
Depois do almoço brincávamos um pouco de carrinho de lata e boneca de pano e depois íamos buscar água para os animais, Eles também são filhos de Deus, como diziam os mais velhos.
A rotina da tarde era igual ao da manhã de hoje e o da noite era igual ao da noite de ontem, a não ser pelo jantar, que hoje é papa ku leti, não djagacida, O cardápio é variado, como se vê.
Os três meses se passavam rapidamente e, antes que me atentasse a isso, era hora de voltar para a cidade, no mesmo carro, com as mesmas pessoas me amassando, não com o mesmo bode fedido, mas com um leitão igualmente fedorento a meu lado, Muito obrigado.
Aquele abraço.
A saída era ao lado do mercado, sempre, por volta da uma hora com o sol já derretendo a ansiedade que alguns trouxeram de conhecer a cidade, passear no prisídio, comprar no mercado, Vamos embora condutor, Pelo amor de Deus, Vamos, e fomos.
Até Brandon a viagem não tinha muitas surpresas, a paisagem era a mesma, cor de poeira, amarga, povoada por alguns magros exemplares de cabras, comendo pedras, como aprenderam, para não perecerem.
A partir daí melhorava um pouco. Em Patin tinha sempre um bêbado para alegrar o povo que abarrotava o carro. Depois que todos riram tentei, sem êxito, saber o que se passara. Não consegui me mexer, de tão amassado que estava. Mal sabia que um passageiro menos cheiroso havia de ficar a meu lado, daqui a pouco e pelo resto da viagem.
Daqui a pouco chegamos a Txada furna, Cabeça fundon onde alguem sempre dava um queijo fresco de leite de cabra, Um pedaço para cada um, Dá um pedacinho para o menino lá no fundo, Coitado, está todo amassado.
O carro entrou, por fim, na caldeira amada, e eu desci. Os próximos trinta minutos de viagem seriam a pé, carregando o saco com as roupas, poucas, diga-se para conhecimento de todos, os doces para as crianças, a erva para minha avó fumar o canhoto e a bola para jogarmos no final do dia. Sempre alguém vinha a meu encontro, meus primos e os primos de meus primos, querendo saber das novidades da cidade, dos doces, sejamos sinceros. Dos doces anos de minha infância tenho eu enormes saudades.
No primeiro dia tinha muitos privilégios, quase nenhuma obrigação. Jantamos djagacida ku leti e fomos todos dormir, juntos, no colchão de capa de milho esticado no chão da sala, embalados pelas histórias de outros reinos contados pelos mais velhos.
De manhã todos são acordados pela avó, Acordem que o sol já vai alto, todos tomam o café e saem para a lida, os meninos para cuidar dos animais e as meninas para catar feijão, lenha e cuidar da casa.
Depois do almoço brincávamos um pouco de carrinho de lata e boneca de pano e depois íamos buscar água para os animais, Eles também são filhos de Deus, como diziam os mais velhos.
A rotina da tarde era igual ao da manhã de hoje e o da noite era igual ao da noite de ontem, a não ser pelo jantar, que hoje é papa ku leti, não djagacida, O cardápio é variado, como se vê.
Os três meses se passavam rapidamente e, antes que me atentasse a isso, era hora de voltar para a cidade, no mesmo carro, com as mesmas pessoas me amassando, não com o mesmo bode fedido, mas com um leitão igualmente fedorento a meu lado, Muito obrigado.
Aquele abraço.
Eliezer Monteiro - Rio de Janeiro
2 comentários:
Kumpá obrigado pá és história. Nho fazém lembra kel tempo kim ta esperaba kés Carro de Mostero na Patim pa dano boleia pa Bila pa ba sisti aula na ciclo e dipós na Liceu. Carros ta binha cheio de monstero mas mesmo assim alguns condutores tinha boa vontade és ta daba nós boleia. Du ta baba totchado junto ku liton, galinha, cabritos, saco ku batata, etc. Mas sabi nós bida. Kel tempo kim ta guardá na nha memoria pa sempre.
Akele abração desde Algarve do outro lado do Magestoso Atlântico.
Alector_mg.
Pois é kumpá, mesmu na ladu liton du ta passaba sabi. sima nós terra ka tem na mundo. kel abrasaun pa nho tn kumpá
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